Em plena Vinitaly, um convite
tentador: uma degustação comparativa entre espumantes italianos e...
ingleses! Essa não dá para perder, então adio algumas visitas e vamos lá.
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A degustação foi preparada pela
jornalista Italiana Michèle Shah, escritora, promotora de eventos e colunista
em revistas internacionais, especializada no vinho italiano.
Michèle pesquisou a região e os
produtos e criou essa oportunidade única, uma das degustações programadas da
Vinitaly, que motivou uma grande platéia onde ninguém havia degustado os
espumantes ingleses antes.
SOBRE A REGIÃO
No passado já se tentou fazer vinho
na Inglaterra, os romanos ali implantaram vinhedos há 2000 anos! A região é bem
ao sul da ilha, e seu clima frio e chuvoso se mostrou obviamente inadequado.
Com as mudanças recentes de
temperatura, o sul da Inglaterra mostra hoje similaridades com o norte da
França, e se iniciou uma produção local de espumantes, que hoje já se mostra
amadurecida, mas tem muito caminho pela frente até concorrer com os espumantes
e de países com tradição nessa fascinante bebida.
A PRODUÇÃO
Atualmente (2012) existem 1.800
hectares de vinhedos, cultivados com as variedades Chardonnay, Pinot Noir e
Pinot Meunier. A produção atual é de 3 milhões de garrafas, devendo chegar a 5
milhões em 2015. O maior consumo é do mercado inglês, com principais
importadores na Escandinávia e Oriente.
A DEGUSTAÇÃO
Foram degustados ao todo 12
espumantes, 3 italianos do Trento, 3 italianos de Franciacorta (Lombardia) e 6
ingleses.
Villa Crespia Franciacorta Numero
Zero – Fratelli Muratori
Cremoso, mineral, seco, longo e
envolvente, com frutas maduras e notas de pedra morena.
Glasbond Estate Blanc des Blancs 2007
Chardonnay
Em sua segunda safra de produção, é
quase dourado, mostra maçã madura e desidratada, leveduras frescas e saborosas,
final frutado gordo muito bom. A acidez é alta (8,3) o que explica a dosagem
mais alta para equilibrar, mas o resultado é um pouquinho enjoativo, ficando
ainda um final sápido.
Ferrari Trento DOC
Aroma maduro, gordo, de frutas e
leveduras. Boca enxuta, com fruta quase passada, leve nota mineral (das
montanhas). Final longo e saboroso com médio frescor. Complexo, fresco e
convidativo. Devido ao aquecimento, a vinícola está plantando novos vinhedos em
locais mais altos para manter as características do terroir.
Guido Berlucchi Franciacorta
Cellarius Pas dosé 2006
Frutas carnudas (pêssego, damasco),
frescor equilibrado, média complexidade, notas picantes, evolução muito fina,
longo e agradável.
Chapel Down Pinot Noir / Chardonnay
2006
Aroma elegante de frutas brancas e
notas florais. Acidez média, base de leveduras, sabor evoluído com frutas
passadas e nota salina, final com leve toque picante de pimenta branca. Acidez
alta (8,5) e dosagem potente (12g). Um pouco pesado e enjoativo na conjunção
fruta passada / dosagem.
Denbee Estate English Sparkling Brut
2007
Pinot Noir 50%, Chardonnay 35%, Pinot
Meunier 15%
Aroma de leveduras tostadas e notas
vegetais. Evolui fresco, com notas vegetais, tostados, leve amargor. Muito
dosado (13 g), para equilibrar os sabores vegetais provavelmente devidos a
maturação incompleta das uvas. A vinícola está trabalhando em melhorias nos
vinhedos.
Balfour Brut Rosé 2008
Cor rosa-castanho leve. Aroma
estranho de queijo gorgonzola, provavelmente de fermentação malolática ocorrida
após engarrafado, fruto de inexperiência. Muito ácido, é gordo, com boa
estrutura, evolui com amargor e frutas vermelhas desidratadas.
Bridge View Pinot Noir / Pinot
Meunier
Aroma de leveduras maduras. Boca
potente, estrutura de uvas tintas, acidez volumosa. Frutas dominantes, sutil
levedura, final com leve amargor, pode cansar. O estilo sugere prensagem excessiva
das uvas.
Maso Martis 2006 - Trento – Pinot
Noir 70% Chardonnay 30%
Boa safra. Pinot Noir sem malolática,
Chardonnay fermentado e maturado em barrica (6 meses), com malolática.
Elegante, macio, amplo e generoso, frutas intensas, leveduras elegantes, final
cremoso e envolvente. Muito bom.
Balny Cuvée Rosé 2009 Pinot Noir
Aroma fino e elegante. Na boca é
equilibrado, com acidez gorda, jovial e fresco, algo dosado (10 g/l). Final com
leve amargor, elegante. Bem bom.
Altemasi Riserva Agrate 2004 – Trento
– Chardonnay 70% Pinot Noir 30%
60 meses de autólise. O ataque é
fresco, evolui com levedura bonita e frutas brancas maduras e pão branco. Nota
mineral, corpo gordo, final longo de fruta com amargor e leve sapidez.
Cà del Bosco Franciacorta 2004 – Chardonnay
55% Pinot Bianco 25% Pinot Noir 20%
Fruta ampla, boa acidez, nota
mineral. Evolui bonito, muito gastronômico, final de fruta branca sólida com
pedra mineral
CONCLUSÕES
Os espumantes italianos, como
esperado, mostraram maturidade, qualidade e finesse.
Os espumantes ingleses, devido ao
recente início de produção, apresentam diversas inconsistências e
desequilíbrios, além de alguns problemas.
A maioria mostra níveis altos de
dosagem (teor de açúcar resultante do licor de expedição), usado para equilibrar
a acidez elevada produzida pelas uvas (característica do terroir), o que aponta
para ajustes no manejo dos vinhedos. A presença de notas de imaturidade nas
uvas revela a dificuldade de completar a maturação fenólica das cascas, o que é
um problema grave de comportamento do clima local. Surgem ainda notas salinas,
típicas dos vinhedos próximos ao litoral, detalhe que deverá ser equacionado,
por ser imutável.
Como disse a Baronesa Philipinne de
Rothschild sobre a vinicultura, “Wine making is really quite a simple business.
Only the first 200 years are difficult.”
CARLOS ARRUDA-
academia do vinho